Nos últimos anos temos olhado com mais atenção para as ocorrências de situações de bullying, numa tentativa de conscientização sobre os problemas que essa prática pode causar – e causa! – na vida não só daquela pessoa que fora vítima, mas também das pessoas que estão em seu ciclo de relacionamento e até fora dele.
Mas antes de falarmos sobre essas consequências é importante identificarmos quem são os personagens envolvidos nessa violência.
Sim! O bullying é uma forte forma de manifestação de violência.
Estudos que buscam traçar o perfil dos personagens de bullying identificaram três tipos:
a) Autor: aquele que vitimiza outra pessoa ou grupo de pessoas;
b) Alvo: pessoa ou grupo de pessoas que é alvo de bullying;
c) Autor/Alvo: alguém que vitimiza e é também vitimizado.
Para começarmos a entender esses três perfis, precisamos primeiro ter em mente, que todos eles já vivenciaram algum tipo de situação de violência anteriormente.
Então, temos que, ninguém – adulto ou criança – se torna uma pessoa violenta ou submissa à violência, sem que tenha tido contato com alguma forma de violência e, não raro isso ocorrera no espaço que lhe deveria ser o mais protetivo: a família.
Alguns estudos mostram que crianças que têm mães superprotetoras ou agressivas são mais propensas a serem vítimas de bullying.
Pais hostis ou permissivos, tem pouco habilidade em resolver conflitos e incentivam os filhos a revidarem à mínima provocação.
A fragilidade da coesão familiar, o uso da violência física como forma de disciplina e a exposição – seja como testemunha seja como vítima – à violência interparental ou parental direta (dos pais contra os filhos) também são fatores de risco.
Quanto mais severa for a violência cometida pelos pais maior a probabilidade de a criança figurar como alvo ou autor/alvo de bullying.
Quais as consequências de quem sofre o bullying?
Todas as pessoas vítimas de bullying são afetadas por essa experiência, porém cada uma delas vive – e reage – a ela de uma maneira muito particular.
A forma e intensidade com que isso se dá dependem de diversos fatores, entre eles: características psicológicas, grau de autoestima, histórico de vida, fatores protetivos etc.
À época em que o evento ocorre, muitas vezes verificamos comportamentos como hiperatividade, agressividade, retraimento, tristeza, timidez, dificuldade em se relacionar, sentimento de inferioridade, depressão e prática de bullying sobre outros grupos, por exemplo.
Posteriormente pode se tornar introvertido ou expansivo; um profissional medíocre ou uma pessoa de sucesso; uma pessoa amarga, vingativa, egoísta ou amorosa, acolhedora, empática; e apresentar autoestima comprometida, insegurança, problemas de relacionamento, dificuldade em lidar com as frustrações, sentimento de inferioridade, excessiva necessidade de agradar.
Mas seja qual for o adulto que essa criança venha a se tornar, carregará consigo as marcas dessa experiência invariavelmente dolorosa.
Mas o que faz com que opte por ser desse ou daquele jeito?
Suas características de personalidade e estratégias de atuação.
Por exemplo, escolhe ser:
a) Introvertida/extrovertida: apesar de serem estratégias diametralmente opostas, têm o mesmo objetivo: esconder das outras pessoas seu sentimento de inferioridade, autoestima comprometida ou medo de se relacionar;
b) Profissional medíocre: por tomar como verdade as qualidades negativas que lhe imputavam na infância ou pessoa de sucesso: para provar a si mesmo que tem capacidade e aos seus agressores que eles estavam errados.
Porém, as razões são as mesmas: duvidar de sua capacidade, tomando como verdade as acusações que seus agressores lhe fizeram;
c) Pessoa amarga, vingativa, egoísta: pela revolta e agressividade reprimidas; ou amorosa, acolhedora, empática: por reconhecer no outro sua própria experiência de vida e tentar, de alguma forma, aliviar-lhe o sofrimento por meio da solidariedade.
Adultos também sofrem bullying?
Sim! Sofrem.
E o fato de serem adultos não torna essa experiência menos dolorosa e traumática. Pelo contrário.
Aqueles que se encontram em situação de bullying só têm dificuldade de reagir a essa prática por terem sido vítimas de algum tipo de violência no passado e não terem recebido suporte adequado para superá-las.
Não podemos esquecer que o assédio moral, em toda a sua amplitude, é também uma forma de bullying, mas não a única a atingir a pessoa adulta.
As discriminações religiosas, étnicas, bairristas (contra nordestinos e retirantes), de gênero (LGBTfobia e a misoginia), de compleição física (obesidade, emaciação, nanismo, claudicância, deficiência intelectual), a xenofobia, a aporofobia (aversão à pessoas indigentes, pobres ou com poucos recursos) são alguns exemplos de motivos usados para a prática de bullying.
O que fazer para superar essa experiência?
O ideal é buscar ajuda profissional e nesse sentido, o psicólogo é a melhor opção.
A Psicologia se dedica a auxiliar as pessoas a compreenderem essa experiência, os motivos que levaram a pessoa dar-lhes esse ou aquele significado e ajudá-la a ressignificá-la – dar-lhes um novo significado – de forma a poder olhar para essa situação sem que isso continue a lhes trazer desconforto ou sofrimento.
Esse trabalho será tão menos árduo, doloroso e demorado quanto for a disposição e a capacidade que a pessoa tiver para tomar contato com essas experiências.
A prática regular de atividades físicas, uma alimentação saudável e um repouso de qualidade também são fatores importantes para o sucesso do tratamento.
Ao longo do processo, o psicólogo poderá identificar a necessidade de um trabalho multidisciplinar – frequentemente envolvendo a psiquiatria – e definirá com o cliente, a melhor forma para que isso seja feito.
Muitas vezes esse é um ponto de forte resistência por parte do cliente, devido ao que chamamos de psicofobia – resistência em aceitar a participação da psiquiatria e da interação medicamentosa no processo terapêutico – e nesse caso, é importante que o psicólogo lhe desconstrua as crenças e preconceitos, não só em relação aos transtornos mentais, mas também esclarecendo que, frequentemente o uso dessa medicação será temporário e totalmente seguro, com redução de efeitos colaterais e sem o risco de causar dependência, quando indicadas por profissional competente e administradas corretamente.
Você se identifica com qualquer dessas situações?
Ou conhece alguém que se encaixe nesse perfil ou se encontra em desconforto/sofrimento emocional?
Não tenha receio de procurar ajuda.
Converse com amigos, familiares e profissionais de saúde de sua confiança, em busca de indicação de profissionais bem referenciados para lhe acompanhar nesse processo de autoconhecimento e superação.
O escritor americano Alberto Camus escreveu:
“(…) e no meio de um inverno eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível”
E a psicologia pode ajudar você a encontrar o seu verão interior.
Nota: este artigo pode ser reproduzido ou distribuído livremente desde que sejam dados os devidos créditos ao seu autor.