Yunes e Szyamanski (2001, pp. 24-25) explicam que os fatores de risco referem-se aos eventos negativos de vida que, quando presentes aumentam as chances de o indivíduo apresentar problemas físicos, sociais e emocionais. Se esses fatores constituir-se-ão ou não em risco dependerá do comportamento que se tem em mente e dos mecanismos pelos quais os processos de risco operam seus efeitos negativos na criança (Cowan, Cowan e Schulz, apud Yunes e Szyamanski, 2001 p.24).
Assim, os riscos psicológicos mudam conforme as circunstâncias de vida dos indivíduos e, dependendo de cada um, têm diferentes repercussões, de forma que é impossível inferir linearmente o tipo de causa-efeito quando nos referimos aos riscos psicológicos, pois os fatores de risco podem operar de maneiras diferentes de acordo com o período de desenvolvimento e/ou contexto em que o indivíduo se encontra e das experiências acumuladas por ele.
Desse modo, indicadores de risco nem sempre se traduzem em mecanismos de riscos, até porque o que é risco em uma determinada situação pode ser proteção em outra. Disso também decorre não podermos considerar eventos isolados como fatores de risco (Yunes e Szyamanski, 2001, pp. 24-27).
Zimmerman e Arunkumar (1994 apud Hutz) consideram vulnerabilidade como uma predisposição individual ao desenvolvimento de disfunções psicológicas ou adoção de respostas pouco adequadas diante de determinada situação. É um atributo pessoal que se manifesta diante de uma situação de risco – esta sim, calcada em uma dimensão mais abrangente que envolve, inclusive, o ambiente em que o indivíduo está inserido.
Os fatores de risco são definidos como situações ou variáveis associadas a uma alta probabilidade de que resultados indesejáveis e/ou negativos ocorram, o que inclui comportamentos que podem comprometer a saúde, o bem-estar, ou o desempenho social do indivíduo (Jessor et al., apud Hutz, 2002).
Bandeira et al. (apud Hutz, 2002, p.11) consideram como em situação de risco a criança cujo desenvolvimento não ocorre segundo o esperado para sua faixa etária e pelos padrões culturais estabelecidos
Zimmerman e Arunkumar (apud CECCONELO e KOLLER, 2000, p.73) afirmam que a pobreza é considerada como um tipo de ameaça constante que aumenta a vulnerabilidade da criança por poder causar privação social, desnutrição e desvantagem educacional. Em determinadas situações, a miséria econômica pode vir acompanhada de outros fatores de risco – como conflitos conjugais – afetando, conseqüentemente as relações entre o casal e a criança, ao que Hutz et AL, Nunes, Pierre e Layzer (apud HUTZ 2002, p.) dão o nome de miséria afetiva.
A vulnerabilidade – que só opera na presença do risco, ou seja, sem este não tem efeito – é a predisposição individual para que psicopatologias ou comportamentos ineficazes se desenvolvam em situações de crise (cowan, cowan e schulz apud Yunes e Szyamanski, 2001, p.29). Não se refere somente a predisposições genéticas – considerando-se que autoestima comprometida, traços de personalidade e estados depressivos são comumente definidos como vulnerabilidade – uma vez que fatores externos – como praticas educativas ineficazes – podem funcionar como vulnerabilidades. (patterson e cappaldi apud Yunes e Szyamanski, 2001, p.29)
Para Hutz, Koller e Bandeira (apud Yunes e Szyamanski, 2001, p.29), o conceito de vulnerabilidade serve para definir as susceptibilidades psicológicas individuais que aumentam os efeitos dos estressores e impedem o indivíduo de responder satisfatoriamente ao estresse.
Garmezi e Master definem vulnerabilidade como uma predisposição individual potencializadora de um evento estressor. Zimmerman e Arunkumar afirmam que ela se caracteriza por respostas mal-adaptadas que trazem conseqüências negativas ao desenvolvimento psicológico.
As variações na sensibilidade de crianças a riscos ambientais, tanto podem ter origens genéticas como podem ser derivadas de seu repertório de experiências. Se suas conseqüências ser-lhes-ão ou não prejudiciais ao seu desenvolvimento psicológico dependerá das inter-relações entre os fatores já expostos anteriormente. Isso, de alguma sorte, explica parcialmente a diversidade de respostas a situações de risco psicossocial (RUTTER apud Yunes e Szyamanski, 2001, p.29).
Zimmerman e Arunkumar defendem que vulnerabilidade refere-se a “predisposições ao desenvolvimento de várias formas de psicopatologias”.
Alterações aparentes no desenvolvimento psicológico e/ou físico de um indivíduo que se submeteu a situações de risco é a definição de vulnerabilidade dada por Rutter que complementa afirmando que essas alterações ficam, de tal forma, evidentes na trajetória adaptativa desse indivíduo a ponto de poder torná-lo propenso e suscetível a apresentar sintomas e doenças.
Vulnerabilidade social e vulnerabilidade psíquica são termos originários da área da advocacia internacional e designam, em sua origem, grupos ou indivíduos fragilizados, jurídica ou politicamente, na proteção ou na garantia de seus direitos de cidadania (Alves, 1994). Posteriormente, o termo vulnerabilidade passou a fazer parte do campo da saúde.
Ayres e cols. (apud Tedesco e Liberman, 2008) apresentam alguns componentes importantes para avaliar condições de maior ou menor vulnerabilidade social dos indivíduos: acesso aos meios de comunicação, escolarização, disponibilidade de recursos materiais, poder de influência em decisões políticas, possibilidade de enfrentamento das barreiras culturais, de estar livre de coerções violentas ou poder defender-se delas.
Bellenzani e Malfitano (2006) consideram pertinente a definição de vulnerabilidade psíquica pela possibilidade de pensarem fatores potenciais para o desenvolvimento desta, de modo que,
sinergicamente, componham condições propulsoras ao sofrimento ou ao adoecimento psíquico. Tais fatores estariam relacionados ao universo cultural, histórico e social; daí a dimensão da Vulnerabilidade Social, como as experiências de vida singulares que, combinadas, seriam a matéria-prima para a constituição das subjetividades (Bellenzani e Malfitano 2006, p. 122).
Em especial na adolescência, por tratar-se de uma fase do desenvolvimento em que ocorrem mudanças físicas e psicológicas significativas, ao que Erikson (1976) denomina moratória psicossocial – fundamentalmente um período de experimentação de papéis e busca de alternativas para elaboração interna do socialmente convencionado –, é um período da vida muito vulnerável para grande parte dos indivíduos (Alves, 1997). O processo de tornar-se independente dos pais, associado à tendência de maior valorização de seus pares, bem como o desejo do indivíduo de explorar uma variedade de situações com as quais não sabe exatamente como lidar, acaba por deixá-lo confuso e inseguro sobre que decisões tomar e que rumos seguir (Berger, 1972).
Conforme afirmam Pesce e cols. (2004), o desenvolvimento e/ou fomento, pelos indivíduos, de mecanismos que lhes permitam superar as adversidades, transformando em motivação o que lhes poderia ser um obstáculo, tem-se mostrado uma profícua estratégia para o desenvolvimento da vida sadia mencionada algures neste texto. A essa capacidade de superação das adversidades e reversão de obstáculos em propulsão para o sucesso denomina-se resiliência: uma habilidade de voltar rapidamente para o seu usual estado de saúde ou de espírito depois de passar por doenças, dificuldades, entre outros. O termo fora importado de um conceito da física, que define resiliência como a habilidade de uma substância retornar à sua forma original quando a pressão é removida.
Para Rutter, a resiliência é o processo final de processos protetivos que, antes de eliminar o risco impulsiona o indivíduo a enfrentar – efetivamente – a situação de risco.
“Resiliência refere-se a processos que operam na presença de risco para produzirem conseqüências boas ou melhores do que aquelas obtidas na ausência de risco” (Cowan, Cowan e Schulz, apud Yunes e Szyamanski, 2001)
Pereira (2001) define resiliência como um processo psicológico que se vai desenvolvendo ao longo da vida a partir do binômio “mecanismos de risco e fatores de proteção”, que podem ser definidos como:
1) mecanismos de risco: processos nos quais, por exemplo, um número total de fatores de risco a que o indivíduo foi exposto, o período de tempo, o momento da exposição ao risco e o contexto são mais importantes que uma única exposição grave (Engle Castle e Menon, apud Pesce et AL 2004). Quando muitas situações de risco ocorrem simultaneamente, prejudicam o desenvolvimento do indivíduo, sua aquisição de habilidades e seu desempenho de papéis sociais (Sapienza e Pedromônico, 2005).
Condições de pobreza, isolamento social, rupturas na família, vivência de algum tipo de violência, experiência de doença no próprio indivíduo ou na família e perdas importantes são alguns exemplos. Em suma, são obstáculos individuais ambientais;
2) fatores de proteção: recursos pessoais ou sociais que atenuam ou neutralizam o impacto do risco.
Antoni e Koller (apud Pinheiro, 2004) identificaram quatro fatores cujo produto propicia certo nível de proteção. São eles: (1) sentimento de sentir-se amado e aceito, (2) atenção e orientação por parte dos cuidadores, (3) qualidade das relações, (4) relações sociais próximas e significativas.
Os processos de proteção caracterizam-se essencialmente por provocarem uma modificação catalítica da resposta do indivíduo aos processos de risco e possuem quatro principais funções: reduzir o impacto dos riscos, reduzir as reações negativas em cadeia que se seguem, estabelecer e manter a autoestima e autoeficácia, criar oportunidades para reversão dos efeitos de estresse (Rutter, 1987).
A afirmação de Trombeta e Guzzo (2002) é de que o indivíduo resiliente possui um equilíbrio entre:
a) Eventos estressantes: as ameaças, os perigos, o sofrimento e as condições adversas que levam ao desenvolvimento da vulnerabilidade;
b) Forças: as competências, o sucesso e a capacidade de reação e enfrentamento.
Esse equilíbrio dá-se pela utilização das forças como forma de neutralizar ou suplantar os eventos estressantes.
O perigo está em se definir, de forma arbitrária, eventos isolados como fatores de risco dando importância à idéia de equilíbrio entre risco e proteção, de forma que aquele seja moderado por este, proporcionando como resultado uma atitude positiva frente à adversidade da vida (Rutter, 1987).
Pinheiro (2004, p.1) define resiliência como “a capacidade que tem o ser humano de se recuperar psicologicamente quando é submetido às adversidades, violências e catástrofes na vida”.
Mais além vai Tavares (2001), ao afirmar que a resiliência não deve ser encarada apenas como um atributo individual, mas também coletivo, na medida em que, estando presente nas instituições e organizações sociais, pode contribuir sobremaneira à formação de uma sociedade mais resiliente.
Segundo Yunes e Szyamanski (2001, p.24), “resiliência não significa evitar experiências de risco e apresentar características saudáveis ou ter boas experiências”
Em um estudo exploratório, Alvarez e cols. (1998) ventilaram a hipótese de a resiliência ser o resultado entre fatores internos e externos, consequenciando-se em uma formação de sentido da própria vida através de um rumo norteador de projetos. Também demonstraram ser importante instituir-se alguma forma de apego seguro do indivíduo, seja com irmãos, parentes, outras pessoas ou mesmo uma instituição.
Segundo Pesce (2004), é possível aprender formas de enfrentamento de situações de risco e vulnerabilidade a partir da convivência com pessoas que obtiveram sucesso diante de tais situações.